Todo amor é recíproco, mesmo quando não é correspondido.
[Jacques Lacan]
[Jacques Lacan]
“Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: ‘Se eu te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa. Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que talvez tu mesmo não conheças’. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não é calculável por antecipação”.
Comentário de Jacques Allain Miller, especialista em Lacan
Se eu amo alguém, eu amo características desta pessoa que me fazem amá-la, há algo nela que me faz amá-la, seja porque eu possuo as mesmas características (logo eu não amo o outro e sim uma parte minha que se espelha no outro), ou atributos meus que eu admiro em outros porque julgo não possuí-los (quando, na verdade, eles são apenas um potencial latente em mim), ou até mesmo partes minhas que eu nego porque não as aceito, mas ainda assim amo (ou deveria amar) porque são partes minhas que não podem ser excluídas da totalidade do meu ser.